Amazônia Central

Expedições

Já viajamos por esta região mais de uma dezena de vezes, mas que pela grande dimensão territorial da área, sempre há novidades para se ver e descobrir.

Manaus – AM, como nas demais ocasiões, foi nosso ponto de partida. Em plena época de chuvas, tudo é muito difícil por aqui, incluindo as trilhas na floresta que ficam enlameadas, dificultando o deslocamento, contudo é uma época em que a maioria das espécies de palmeiras frutifica.

Na primeira etapa da viagem, após nos juntar ao colega e grande colaborador local Dr. Valdely Kinupp da Escola Agrotécnica Federal e após uma rápida passagem ao herbário do INPA para localização de algumas plantas a serem procuradas, voltamos à Reserva Ducke, localizada próximo à cidade de Manaus, onde, pela sua grande diversidade vegetal, sempre estamos encontrando novidades, o que desta vez não foi diferente, como por exemplo, as palmeiras: palha-vermelha (Attalea attaleoides), a pachiubinha (Iriartella setigera), o buritizinho (Lepidocaryum tenue), o ubim (Geonoma maxima), o marajazinho-elegante (Bactris elegans) e a mumbaca (Astrocaryum gynacanthum), só para citar algumas espécies – estavam com muitos frutos maduros (foto 1).

Rumando agora para o norte em direção ao estado de Roraima pela rodovia BR 174 que liga Manaus à Boa Vista e à Venezuela, logo a floresta densa e verde se manchava de vermelho intenso em alguns pontos pelo abundante florescimento da árvore rabo-de-arara-da-folha-larga (Kerianthera preclara), uma das mais floríferas da floresta Amazônica (foto 2). Logo mais adiante, há cerca de 200 km de Manaus, tivemos que cruzar a Reserva Indígena Waimiri Atroari num percurso de 125 km pela rodovia que corta a floresta densa da reserva e onde não é permitido parar em lugar algum, nem mesmo para fotografar, porque, segundo as placas indicativas, os índios não gostam e, cujo trajeto só é permitido fazer das 06:00 as 18:00 h. Trata-se de um grupo indígena culturalmente desenvolvido, porém isolado e de hábitos primitivos, como o de andarem seminus.

Já no estado de Roraima e fora das terras indígenas, a floresta densa começa lentamente a ralear, dando lugar a uma campinarana (uma vegetação aberta semelhante ao cerrado) de solos arenosos muito úmidos e até inundáveis nesta época, onde as palmeiras do buriti (Mauritia flexuosa), do caraná (Mauritia carana), da piassabarana (Barcella odora) e do caiué (Elaeis oleifera) abundam e, para nossa alegria, todas com muitos frutos maduros (foto 3). Esta última espécie é o dendê-brasileiro, parente muito próximo do dendê-africano amplamente cultivado na Bahia e norte do Brasil (foto 4). À medida que se avança para o norte a vegetação continua raleando e a partir da linha do Equador vai lentamente passando para uma savana. Nas campinas de areia-branca situadas nas proximidades da linha do Equador a diversidade vegetal atinge o seu auge, com as palmeiras Barcella odora,Astrocaryum acaule, Bactris simplicifrons e Desmoncus sp. (espécie nova), juntamente com algumas arvoretas e arbustos ocupando o extrato superior, enquanto muitas espécies herbáceas revestem o solo e as pequenas lagoinhas formadas nesta época de chuvas, destacando-se duas espécies deMayaca (família Mayacaceae), várias do gênero Utricularia (família Lentibulariaceae), do gêneroBurmania (família Burmaniaceae) e dezenas de espécies de Bromeliaceae, Orchidaceae, etc. (foto 5).

Voltando agora ao estado do Amazonas na região de Presidente Figueiredo, onde dezenas de cachoeiras decoram os rios e florestas da região, percorrendo campinaranas mais secas e um tanto arbóreas, encontramos duas espécies de Retiniphyllum (família Rubiaceae), um gênero até então nunca visto por nossa equipe e uma trepadeira lenhosa, parente do maracujá-comum, porém possivelmente ainda pertencente ao gênero Passiflora, mas infelizmente só havia flores e não ficamos sabendo se seus frutos são ou não comestíveis (foto 6 e foto 7).

Mudando agora para uma área de floresta densa na região da Represa de Balbina em busca de uma palmeira ainda desconhecida por nós – Astrocaryum ferrugineum, acabamos acidentalmente encontrando outra do mesmo grupo e igualmente para nós ainda desconhecida – Astrocaryum farinosum, conhecida popularmente na região por “murmuru-í”, de belas folhas pinadas prateadas (foto 8). As chuvas intensas na região obrigaram-nos a desistir da busca da palmeira procurada para voltar para Manaus, uma vez que esta passagem rápida pela Amazônia Central foi apenas para um aquecimento e preparação para a longa viagem que se seguiu para a região da Amazônia Ocidental e selva colombiana.

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