A maioria de nossas expedições realizadas até o presente à floresta Atlântica do sul da Bahia concentrou-se na região cacaueira do Recôncavo Baiano, desde a Baía de Todos os Santos até a região de Una, onde a vegetação natural é mais conservada e mais exuberante e também conhecida como ‘floresta higrófila sul baiana’. Ao sul desta região até a divisa com o Espírito Santo, numa extensão de cerca de 400 km, onde a topografia é relativamente plana, a exploração pecuária e atualmente o plantio de eucalipto quase dizimaram a floresta que ali existia, restando hoje apenas alguns fragmentos florestais e umas poucas reservas.
Diferentemente da região cacaueira, com menor precipitação, solos arenosos e topografia mais plana, abriga uma floresta menos exuberante e uma diversidade vegetal também diferente, a qual é tanto mais diferente quanto se avança para o interior, transformando-se a vegetação numa forma mais ou menos semidecídua, denominada de ‘mata de cipó’. Para conhecer melhor esta diversidade, organizamos esta expedição com a participação de vários taxonomistas do Jardim Botânico Plantarum e convidados, inicialmente para explorar, no município de Itamaraju, a reserva particular Monte Pescoço, uma área composta por vales, pequenas planícies, encostas e montanhas, ainda toda coberta por uma vegetação natural relativamente bem conservada e caracterizada como de transição da ‘mata higrófila’ para a ‘mata de cipó’.
Logo na entrada, ainda nas áreas de vegetação secundária ou antropizada, chamou-nos a atenção a abundância de plantas da família marantácea, à primeira vista, aparentemente de mais de uma espécie, que segundo o proprietário, constituía-se de séria “planta daninha”. Como é sabido, plantas nativas desta família botânica apenas ocasionalmente tornam-se infestantes de áreas agrícolas e este fato nos intrigou.
Após o primeiro dia de exploração da área e do encontro de mais de 20 espécies de marantáceas, concluímos tratar-se de um centro de dispersão de espécies desta família, para o delírio da colega Dra. Silvana Vieira, nossa especialista no grupo e participante da expedição. Aliada à presença de várias espécies de begoniceae, cannaceae, gesneriaceae, arecaceae e outras, podemos considerar a área como de grande diversidade vegetal. Com o apoio do entusiasta e estudioso das begônias do ES, Ludovik Kollmann, do Museu Melo Leitão, de Santa Teresa – ES, foi possível localizar duas importantes espécies endêmicas deste gênero da região sul da BA (Begonia goldingiana eBegonia bahiensis).
Seguindo agora para a região de restinga arbórea do litoral norte do Espírito Santo (regiões de Jaguaré), com o ciceroneamento do amigo e entusiasta Robinson Lopes – ‘robinho’ como prefere ser chamado (lado direito da foto), fomos logo surpreendidos por uma população de ‘palmito-amargoso’Allagoptera caudescens (sin: Polyandrococos caudescens) composta de plantas acaulescentes (desprovidas de estipe); já havíamos visto isto antes, porém em regiões bem mais ao nordeste do país.. Nosso incansável cicerone a todo momento nos surpreendia com mais novidades, como uma grande população de Begonia humilis, Chameocostus subsessilis, Sinningia richii de flores brancas e de flores amarelas, contudo nesta época ainda sem flores (já havíamos visto de flores azuis) e várias outras gesneriáceas, orquídeas e passifloras. Foi um dia muito produtivo e agradável.
No dia seguinte fomos à Reserva Florestal da Vale do Rio Doce, em Linhares, onde já estivemos dezenas de vezes, antes de prosseguirmos para a próxima etapa da viagem na região serrana do Espírito Santo. A cidade de Santa Teresa foi a base desta etapa, situada em uma região muito rica em diversidade vegetal. A família begoniácea é particularmente abundante na região e, com o apoio da especialista no grupo, Dra. Eliana Jacques de Lima da Universidade Rural do Rio de Janeiro, que acabara de se juntar àexpedição, nossas buscas por espécies desta família se tornaram muito mais produtivas.
Foram encontradas 10 espécies, a maioria ainda desconhecida por nós, como a espécie Begonia callosa. Apesar da menor abundância das populações, a família marantácea também é muito rica na região, tendo sido encontrada, em apenas 3 reservas, cerca de 12 espécies, principalmente do gêneroCalathea, como Calathea crocata.
Com o apoio do colega participante da expedição Mauro Peixoto, foi possível localizar várias espécies da família Gesneriaceae, principalmente do gênero Sinningia, endêmicas da região, como a espécie Sinningia brasiliensis. A pequena cidade de Cardoso Moreira na região norte do estado do Rio de Janeiro (região da Serra do Itacolomi) foi o ponto de partida de nossa última etapa da viagem, onde nosso cicerone e amigoIdimá Gonçalves da Costa (lado direito da foto) nos esperava.
Logo no primeiro dia, após a ocorrência de um quase dilúvio na noite anterior, partimos para a primeira reserva onde, além de uma Calatheade folhagem decídua e de uma acantácea do gênero Pseuderanthemum nunca antes vista, tivemos a surpresa do encontro de uma espécie tuberosa da família Arácea, por nós ainda totalmente desconhecida. Com o apoio do incansável Idimá, as surpresas não cessaram, principalmente ao escalar a Serra da Prata, no município de Italva, onde mais Marantáceas, Acantáceas, Begoniáceas (para o delírio da Eliane) e principalmente uma Griffinia (Amarilidácea) desconhecida, foram encontradas. Com isso tudo, as duas semanas de viagem foram pouco para o grande número de espécies encontradas, para a alegria de todos os participantes.
Situado na área urbana de Nova Odessa (Região Metropolitana de Campinas, a cerca de 120 km da Cidade de São Paulo – SP), o Jardim Botânico Plantarum é um centro de referência em pesquisa e conservação da flora brasileira. Foi idealizado a partir de 1990, por iniciativa do engenheiro agrônomo e botânico brasileiro Harri Lorenzi.
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